segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Funções da linguagem

Olá, pessoal.
Mais uma vez, sumi no mundo sem dar satisfação, né? Passei algum tempo refletindo qual postagem seria mais adequada para tirar as teias de aranha que já estão por aqui. Mil e um assuntos me passam pela cabeça, mas não que eu veja muita utilidade prática neles (e nem muita utilidade para os amigos do vestibular, para falar a verdade). Pretendo surgir com eles, sim, mas não por agora. Sem contar que vão exigir de mim um pouco mais de estudo da matéria, coisa que não tenho feito nas férias.
Para trazer o blog de volta, trago então um assunto bem tranquilo, um exercício quase divertido de se fazer. 
Apesar de poder parecer para alguns um assunto bobo e de pouca importância, o estudo das funções da linguagem demandou muita atenção de diversos cientistas. Entretanto, o modelo mais amplamente difundido (o que é estudado nas escolas, e, portanto, o que será abordado aqui) é o do linguista Roman Jakobson. 
Primeiramente, precisamos destacar que todo ato de comunicação é constituído pelos seguintes elementos: remetente, contexto, mensagem, canal, código e destinatário. Para que a comunicação se realize de maneira plena, a emissão da mensagem de um remetente a um destinatário não é suficiente. São necessários também um contexto, um código e um canal que o remetente e o destinatário compartilhem.  
Contexto é o conjunto de informações de que o destinatário precisa ter conhecimento para que possa compreender a mensagem. Quando elementos como o momento de produção da mensagem ou o conhecimento do assunto em pauta não estão ao alcance do destinatário, o resultado é uma mensagem ineficaz.
Código é o conjunto de sinais ou signos utilizados pelas pessoas para que se estabeleça uma comunicação. Para me dirigir a vocês, por exemplo, uso a Língua Portuguesa, que é um código que compartilhamos. Um japonês que desconheça nosso idioma provavelmente não compreenderá as mensagens aqui expostas e, portanto, a comunicação não será estabelecida.
Canal é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Numa conversa em que remetente e destinatário encontram-se na presença um do outro, considera-se que o canal transmissor seja o ar, através do qual há a propagação das ondas sonoras. No caso da comunicação que agora eu estabeleço com vocês, o canal que eu utilizo é o blog, ou a internet, se quisermos analisar de maneira macro.

Agora, de posse dessas informações, analisemos as seis funções estabelecidas por Jakobson. É necessário perceber que cada uma destas está centrada em um dos seis elementos apresentados como constituintes de qualquer ato de comunicação.

1) Função emotiva: Centrada no remetente. É a exteriorização da emoção do remetente em relação àquilo que fala. Essa emoção acaba por transparecer na mensagem. Essa função fica muito marcada pela escolha de palavras do remetente (note a diferença de emoção existente entre as frases "Ele saiu de casa" e "O canalha abandonou o lar") e pela entonação que usa na transmissão do que deseja comunicar (no caso de uma comunicação escrita, a mudança de entonação virá marcada pela pontuação que o remetente escolhe utilizar), além do uso de interjeições.
2) Função referencial: Centrada no contexto. Consiste na transmissão de informações do referente ao destinatário - conhecimentos referentes a pessoas, objetos ou acontecimentos.
Notícias de jornal são um claro exemplo dessa função.
3) Função poética: Centrada no mensagem. É marcada por uma clara seleção dos elementos linguísticos e preocupação com a forma. Se preocupa mais com como dizer do que com o que dizer. Aparece majoritariamente em textos literários, mas também em expressões cotidianas, que contam com figuras de linguagem como a metáfora, e no ambiente publicitário.
4) Função fática: Centrada no canal. Consiste na tentativa de estabelecer ou finalizar a comunicação. É marcada principalmente por saudações e despedidas, e por tentativas de checar o recebimento da mensagem (nas conversas cotidianas, por exemplo, há um grande costume de colocar o "né" ao final de algumas frases, como uma forma de garantir ao destinatário que ele ainda está participando do processo comunicativo). 
5) Função metalinguística: Centrada no código. É o uso da linguagem para se referir à própria linguagem. Basicamente, é o que estou fazendo aqui, utilizando a Língua Portuguesa para me referir à própria Língua Portuguesa. São exemplos também os dicionários, as gramáticas, as poesias que falam sobre poesias, e por aí vai.
6) Função conativa ou apelativa: Centrada no destinatário. Há uma tentativa de influenciar o comportamento do destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Muito marcada pelo uso de "tu" e "você", ou o nome da pessoa, além de vocativos e imperativos. É amplamente usada em propagandas, já que possuem como função básica a persuasão do público.

É importante destacar, ao final desta postagem, que uma mesma mensagem apresenta quase invariavelmente mais de uma dessas funções. Por isso, se algum dia você, ao analisar uma frase, detectar nela mais de uma função, não se preocupe. O que você deve fazer, sim, é detectar qual função se manifesta com mais força. "(...) a decisão referente a qual a função que caracteriza uma mensagem é mais uma questão de decidir a ordem hierárquica de funções do que de escolher apenas uma.", escreveu o linguista Mário Eduardo Martelotta no livro Manual de Linguística, que organizou junto a outros linguistas, e que foi fundamental fonte de consulta para a formulação da postagem de hoje. Além do livro, este site foi mais uma vez meu auxílio para um momento ou outro. 
Espero ter sido útil. Apreciem, elogiem, critiquem, mandem sugestões por comentário, e-mail, Facebook, telefone ou sinal de fumaça, e puxem minhas orelhas a cada vez que eu ficar muito tempo sem postar nada.

Até a próxima (e espero que isso não seja daqui a muito tempo).