quarta-feira, 2 de julho de 2014

Figuras de Linguagem

Olá!
Após mais uma incrível demora (pela qual eu mais uma vez me desculpo), venho hoje lhes falar sobre as figuras de linguagem (que podem ser figuras de som, de construção, de pensamento ou de palavras). Mas, afinal, o que são essas figuras?
As figuras de linguagem são recursos utilizados pelos falantes da língua para garantir uma maior expressividade à mensagem que se deseja transmitir. Muitas vezes fazemos uso delas em conversas do dia a dia, sem sequer nos darmos conta disso. Abaixo, apresentarei cada uma delas, seguida sempre por um exemplo.

Figuras de Som

- Aliteração: consiste na repetição de sons consonantais com a intenção de intensificar o ritmo ou produzir um efeito sonoro significativo.
Exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma.

- Assonância: consiste na repetição de sons vocálicos idênticos.
Exemplo: "Sou um mulato nato no sentido lato
                 Mulato democrático do litoral" (Caetano Veloso)

- Paronomásia: consiste na repetição de sons semelhantes em palavras com significados distintos.
Exemplo: "Eu que passo, penso e peço." (Sidney Miller)

- Onomatopeia: consiste na tentativa de reproduzir sons reais na forma de palavras.
Exemplo: Tic-tac fazia o relógio na sala de jantar.

Figuras de Construção

- Elipse: é a omissão de um ou mais termos da oração que podem ser facilmente identificados, tanto por outros elementos da oração, quanto pelo contexto.
Exemplo: Tenho quatro irmãos e amo todos da mesma maneira. (As desinências verbais de tenho e amo nos permitem identificar o sujeito "eu" em elipse.)

- Zeugma: é uma forma de elipse em que se omite um termo que já foi mencionado anteriormente.
Exemplo: Ela prefere cinema; eu, teatro. (Omissão de prefiro.)

- Silepse: é a chamada concordância ideológica, ou seja, ocorre quando concordamos não com um termo expresso na oração, mas sim com algum termo subentendido. Existem três formas de silepse: de gênero, de número e de pessoa.
     
1) Silepse de gênero: os gêneros são o masculino e o feminino. Esta forma de silepse ocorre quando concordamos com a ideia que o termo traz.
Exemplo: Vossa Excelência está preocupado. (Nesse caso, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, em vez de concordar com o termo expresso Vossa Excelência.)

2) Silepse de número: os números são o singular e o plural. Esta forma de silepse ocorre quando não concordamos gramaticalmente o verbo com o sujeito da oração, mas sim com a ideia contida nele.
Exemplo: O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. (Note que o sujeito [povo] se encontra no singular, assim como o primeiro verbo, mas o verbo gritavam se encontra no plural, concordando com a ideia trazida pela palavra povo, e não com sua forma.)

3) Silepse de pessoa: são três as pessoas gramaticais: primeira (eu / nós), segunda (tu / vós) e terceira   (ele / ela / eles / elas). A silepse de pessoa ocorre quando o verbo não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa inscrita nele.
Exemplo: "Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
(O verbo somos não concorda com o sujeito os cariocas, mas sim com a ideia de que o autor se insere na ideia trazida no sujeito; ou seja, ele também é carioca, e, por isso, em vez de concordar o verbo com o sujeito, colocando-o na terceira pessoa, coloca na primeira e explicita a ideia de estar dentro do grupo citado.)

- Polissíndeto: para entender esta figura, primeiramente deve-se saber que nos períodos compostos por coordenação (farei em breve uma postagem para explicá-los), podemos ter ou não a presença de conectivos, podendo então classificar os períodos entre sindéticos (com conectivos) ou assindéticos (sem conectivos). O polissíndeto é, portanto, caracterizado pela repetição enfática de conectivos.
Exemplo: "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

- Assíndeto: é uma figura caracterizada pela ausência de conectivos entre as orações.
Exemplo: "Vim, vi, venci." (Júlio César)

- Pleonasmo: ao contrário do que se pensa, o pleonasmo não é um erro. Ele é comumente utilizado, inclusive por grandes escritores, e tem a intenção de realçar uma ideia e torná-la mais expressiva, podendo, para isso, usar palavras do mesmo campo semântico ou termos que tenham a mesma função sintática de um outro termo presente anteriormente na oração (ao que se dá o nome de pleonasmo sintático). Devemos ser cautelosos, sim, com o pleonasmo vicioso, pois este é desnecessário (casos como "subir para cima" ou "descer para baixo").
Exemplos: O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. (Nesta oração, "o problema da violência" e "-lo" exercem a mesma função sintática [objeto direto], e, portanto, caracterizam um pleonasmo.)
                 "E rir meu riso" (Vinícius de Moraes)

- Anáfora: é a repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases, gerando um efeito de reforço e coerência.
Exemplo: "Amor é um fogo que arde sem se ver;
                  É ferida que dói e não se sente;
                  É um contentamento descontente;
                  É dor que desatina sem doer." (Luís Vaz de Camões)

- Anacoluto: é uma figura que se caracteriza por uma ruptura na estrutura frasal. Inicialmente se escolhe uma construção, mas depois se opta por outra, e um termo acaba por ficar solto na frase.
Exemplo: Os alunos da escola, não se pode duvidar deles. (Note que o termo "os alunos da escola" seria inicialmente o sujeito da oração; no entanto, devido a uma interrupção no meio da frase, essa expressão fica à parte e não exerce função sintática alguma.)

- Hipérbato: é a inversão da ordem direta dos termos da oração (sujeito + verbo + complementos + adjunto). É uma forma mais dramática e poética de apresentar a frase.
Exemplo: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
                  De um povo heroico o brado retumbante" (Joaquim Osório Duque Estrada)
(Na ordem direta, ficaria da seguinte forma: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.)

Figuras de Pensamento

- Antítese: consiste na aproximação de duas palavras opostas, realçando um contraste entre seus sentidos que não seria conseguido se elas fossem postas separadamente.
Exemplo: "Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)

- Paradoxo: é também caracterizado pela aproximação de ideias opostas, mas, nesse caso, o uso é tão absurdo que se torna contraditório.
Exemplo: "Estou cego e vejo
                  Arranco os olhos e vejo." (Carlos Drummond de Andrade)

- Eufemismo: é um recurso utilizado para comunicar informações desagradáveis através de expressões mais suaves.
Exemplo: Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (= morreu)
(Obs: Para a mesma frase supracitada, poderia também apresentar um tom sarcástico, irreverente, por meio de expressões como "bateu as botas", com a figura que chamamos de Disfemismo.)

- Ironia: com o desejo de se obter um efeito crítico ou humorístico, a ironia é a utilização de um termo com o sentido oposto ao que se deseja transmitir, ou seja, é você utilizar uma palavra com a intenção de que ela soe exatamente o contrário do que a palavra usualmente comunica.
Exemplo: "A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças." (Monteiro Lobato)

- Hipérbole: é o uso proposital de uma expressão exagerada com o intuito de se enfatizar a ideia transmitida.
Exemplo: Estou morrendo de sede.

- Prosopopeia ou personificação: é caracterizada pela atribuição de características ou ações de seres animados a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Exemplo: "O cipreste inclina-se em fina reverência
                e as margaridas estremecem, sobressaltadas." (Cecília Meireles)

- Apóstrofe: consiste na invocação enfaticamente de alguém ou alguma coisa personificada. Realiza-se por meio do vocativo e com finalidade poética, sagrada ou profana.
Exemplo: "Senhor Deus dos desgraçados!
                  Dizei-me vós, Senhor Deus!" (Castro Alves)

- Gradação: é a apresentação de ideias em progressão crescente (clímax) ou decrescente (anticlímax).
Exemplo: "O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)

Figuras de Palavras

- Comparação ou símile: é estabelecida uma relação de semelhança explicitamente, ou seja, que se mostra através do uso de partículas comparativas.
Exemplo: "Meu coração tombou na vida
                  tal qual uma estrela ferida
                  pela flecha de um caçador." (Cecília Meireles)

- Metáfora:  é uma comparação que se estabelece sem que o conectivo de comparação esteja presente, isto é, uma relação de semelhança estabelecida mais no plano ideológico que no verbal. Características dos termos que se compara fazem com que o autor da comparação os ache semelhantes e dignos de uma construção metafórica.
Exemplo: "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)

- Metonímia: consiste em empregar um termo em lugar de outro, havendo entre eles uma estreita relação de sentido ou afinidade. Pode ocorrer de 14 formas diferentes, que estão listadas aqui, caso interesse a vocês dar uma olhada para entender melhor. Não coloco as 14 aqui porque tornaria a postagem ainda mais extensa. Colocarei aqui dois exemplos que sintetizam bem o sentido da metonímia.
Exemplos: Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (A obra literária de Machado de Assis)
                  Continente pelo conteúdo: Comeu dois pratos no almoço. (A comida que estava no prato)

- Catacrese: é, na verdade, uma metáfora cristalizada. Ocorre quando não possuímos um termo específico para designar determinada coisa, e acabamos por tomar outro desempregado e formar uma metáfora. Porém, devido ao uso contínuo e à popularidade do termo, não mais se percebe a presença da metáfora.
Exemplo: céu da boca /  da mesa / asa da xícara

- Perífrase: trata-se de uma expressão que designa um ser através de uma característica, atributo ou fato que o tornou famoso.
Exemplo: A Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro) ainda atrai milhares de turistas.

- Antonomásia: é uma perífrase que se refere especificamente a pessoas.
Exemplo: O Poeta dos Escravos (Castro Alves) morreu muito jovem.

- Sinestesia: consiste em mesclar, em uma mesma expressão, sensações que são percebidas por diferentes órgãos sensoriais.
Exemplo: No silêncio escuro de seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = percebido com a audição; escuro = percebido com a visão)


Espero que essas postagens lhes tenha sido útil. Para maiores informações, coloco aqui os sites que usei como base, que foram esse e esse (ambos dizem coisas bem semelhantes, mas coloco aqui inclusive para que vocês saibam o que usei como base para a postagem).
Se houver ainda alguma dúvida ou alguma coisa mal explicada, me comuniquem, que imediatamente tentarei mudar a forma de explicar, de forma que a informação atinja a todos igualmente.

Até a próxima.

Um comentário:

  1. gosto de expressar, mais o medo de escrever errado é muito grande e adorei o que você colocou, está fazendo relembrar partes importantes da língua portuguesa. muito obrigada.




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